A Inconstância da Saga Alien.

*o texto a seguir pode contar alguns spoilers, ainda que pequenos*

Alien, sem dúvidas, é uma das franquias mais importantes do cinema dos gêneros horror e/ou ficção científica, porém também é apontada como uma das mais inconstantes do cinema.


 Lançado em 1979 e com direção de Ridley Scott, aqui surge o conceito de Alien. 
O filme acompanha a tripulação da nave Nostromo no ano 2122 que está retornando a terra quando todos são despertos de seus sonos criogênicos pois a nave receptou uma mensagem que é interpretada como um possível pedido de socorro e devido a questões contratuais eles são obrigados a irem ao planeta de origem da mensagem para averiguá-la. Sem saber disso, nem como isso aconteceu, eles levam a criatura para dentro da nave e começa uma batalha pela sobrevivência.
Scott é um mestre! Embora o roteiro não seja dele, mas ele estabelece o conceito do Alien, o conceito original do Alien. Ficção científica era um nicho de cinema que, até então, seus grandes expoentes eram filmes trash B dos anos 50, então Scott, como disse em algumas entrevistas, queria criar o "Massacre da Serra Elétrica" do espaço, e de fato, o fez.
O roteiro é sensacional e está aliado a uma direção de atores tão boa quanto. O filme todo carrega um clima de suspense com uma atmosfera sombria, nenhum pouco forçada, sendo praticamente um "filme de mansão mal-assombrada no espaço", pois o grande conflito está nas sutilezas, pois a tripulação da nave não faz ideia do que se trata aquele monstro e ele está sempre nas sombras, ele é um filme que conta com poucas cenas gráficas e não aposta em jumpscare. A questão da atuação também é ótima, como disse, Ridley é um ótimo diretor de atores, mas com toda certeza o destaque é Segourney Weaver que dá vida a Ripley, uma das mais importantes heroínas da história do cinema.
A direção de arte também é impecável. O filme não envelheceu quase nada (exceto os painéis da nave, aquilo ali ficou mega datado). O design de produção é impecável! A representação da nave até hoje mantém-se muito real e atual. Usa poucos efeitos especiais, sendo praticamente tudo no filme efeito prático, o próprio alien era interpretado por um ator (o nigeriano Bolaji Badejo, que tinha 2m18 de altura). Design de produção esse que rendeu ao filme o oscar de melhores efeitos visuais e também uma indicação na categoria direção de arte. 
É um horror de ficção que fundou um gênero.


Aqui começam as mudanças no tom. 
O segundo filme, lançado em 1986, acompanha Ripley que, após o primeiro filme havia ficado em crio-sono e sua nave é resgata 57 anos após os eventos do primeiro filme. A empresa Weyland (contratante dos funcionários do primeiro filme) desperta Ripley para descobrir o porque ela destruiu a nave Nostrono. Ela conta os eventos, porém ela é descreditada pois os funcionários contam que o planeta que ela referiu-se como sendo o de origem da criatura é uma colonia habitada por humanos a alguns anos. Apavorada, Ripley aceita ir até lá como consultora dos militares que são designados a irem ao planeta após perderem contato com os colonos.
Escrito e dirigido pelo gênio James Cameron, Alien - O Resgate é o filme com o maior tom de ação da franquia. Cameron consegue expandir muito bem a franquia, criando o conceito da alien rainha e aqui surge a vontade dos humanos de usarem o xenomorfo como uma arma biológica, pois ele é apontado como "o organismo perfeito". A direção de arte e design de produção são impecáveis, com a participação inclusive do monstro sagrado das técnicas visuais Stan Winston. Dirigindo a franquia Alien, Cameron puxou a franquia para a ação, seu tema de domínio na época (o que não quer dizer que Cameron não saberia fazer horror, pois ele é muito versátil!) e deu a ele a hora de dirigir duas das personagens mais bad-ass dos anos 80 e do cinema em geral: Sarah Connor, de Exterminador do Futuro, e Ripley, aqui em Aliens.
Embora tenha ocorrido essa mudança de tom, o filme é sensacional (apontado por alguns fãs como melhor que o original), mantendo a franquia ainda no topo, inclusive foi indicado a 7 oscares, sendo melhores efeitos visuais e melhor edição de som os quais levou, e concorreu também a melhor atriz para Sigourney Weaver, melhor trilha sonora original, melhor mixagem de som, melhor direção de arte e melhor montagem.
É um épico de ação que dá uma continuidade digna que o original merecia.


Aqui as coisas começam a complicar. Segourney já não estava mais feliz com a franquia e só aceitou fazer o filme se o desfecho da personagem Ripley lhe fosse satisfatório e a direção ficou por conta de um estreante David Fincher que anos mais tarde ficaria famoso por filmes como SEV7EN, Clube da Luta e Garota Exemplar, por exemplo.
Lançado em 1992, esse terceiro filme se passa em 2179, quando a nave onde Ripley, Newt e o que sobrou do androide Bishop estão em sono criogênico quando um incêndio na nave começa e o que faz com que as uma capsula ejete os três para salvá-los. Ripley então é despertada em Fury 161, planeta que é usado como colônia penal para criminosos violentos, principalmente assassinos e estupradores, que foram sentenciados a prisão perpétua. Newt e Bishop foram mortos e Ripley descobre que havia na nave um facehugger (parasita que coloca o alien dentro das vítimas) e agora, consequentemente, estão presos no planeta, sem armas, sendo caçados por um Alien.
Existem duas versões do filme, a de cinema que é a que a maioria das pessoas assistiu e odiou (aquela história de sempre, estúdio se metendo na produção do filme e não deixando o diretor trabalhar) e a do diretor, que é praticamente outro filme contando com a visão do diretor na edição e mais de meia hora de cenas adicionais, mudando muitas coisas chaves no filme como a própria origem do alien (que desta vez tem sua origem em um animal, e não só no ser-humano como antes, sendo em uma das montagens ele tem origem em uma vaca e na outra um cachorro).
Alien sempre foi uma franquia conhecida por seus incríveis efeitos práticos, torando tudo mais crível, porém aqui nos ansiosos anos 90 e o surgimento da computação, decidiram fazer o xenomorfo em computação gráfica. Receita para o fracasso. Odiado pela crítica e odiado pelo público, a produção do filme foi extremamente conturbada principalmente porque o trabalho de Fincher sofria boicotes e interferências, o roteiro foi reescrito várias vezes até chegar na versão final e a própria Sigourney fez uma série de exigências esquisitas para ver se desistia de tê-la no elenco (como por exemplo um salário astronômico e uma cena "erótica" entre um humano e um alien, cena que chegou a ser gravada, porém ficou fora da edição final), mas embora controverso e polêmico, esse filme tenta retomar o clima de horror do filme original, e de fato, o faz.


Lançado em 1997 e dirigido por Jen-Pierre Jeunet (diretor de O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain), esse aqui é o que mais destoa da franquia, definitivamente! Jeunet faz o filme mais "pipoca" da franquia.
Aqui, a história acontece 200 anos após os eventos do terceiro filme e acompanhamos Ripley 8, um clone da tenente Ripley original, que vive em uma nave cujos cientistas que a clonaram querem desenvolver de vez o Alien como uma arma biológica. A trama se complica quando uma nave cargueira traz pessoas para servirem de hospedeiros dos facehuggers, eis que os alien fogem das celas onde estavam contidos e Ripley 8, juntos com os demais sobreviventes, começam a correr por suas vidas procurando um meio de sair da nave.
Nem sei por onde começar! Ripley 8 é um clone (!) da tenente Ripley original, que tem habilidades (!!) como as dos aliens, como força sobre-humana e sangue ácido (!!!), porém os Alien também tem traços humanos, devido aos cruzamentos genéticos, como por exemplo, a rainha que até então apenas colocava ovos, agora aparece grávida (!!!!) e dá origem a uma nova raça de Aliens, um mais humanoide com a pele mais branca e o formato da cabeça completamente diferente dos demais. É um rolo sem fim, o roteiro é absurdo e preguiçoso, porém foi o primeiro filme que vi da franquia, então preciso admitir que é um dos meus guilty pleasures, mas uma coisa tem que ser dita: a direção de arte volta a ser boa. Aqui temos tantos efeitos práticos quantos efeitos especiais e ambos estão muito bons, em especial numa cena que se passa em um corredor da nave que está inundado (!!!!!) e eles fogem nadando do Alien, essa cena, por mais absurdo que é o roteiro, é muito bem executada.
Temos também aqui uma coadjuvante de luxo: Winona Ryder. Fã assumida da série, quando seu agente ficou sabendo que haveria um novo filme da franquia, ela mesma foi atrás de conseguir o papel no pedindo pessoalmente. Sigourney também voltou com suas exigências absurdas para ver se os produtores da franquia desistiriam de tê-la no longa, então ela exigiu novamente a cena "erótica" entre um humano e um alien fosse realizada e deixada no corte final do filme e um cachê mais alto do que toda a produção de todo o Alien: O Oitavo Passageiro.


Na era das prequels, era óbvio que teríamos um prequel de Alien.
O último filme da franquia principal alien havia sido lançado a 15 anos (embora o alien tenha aparecido no cinema naquelas duas porcarias deploráveis que foram os filmes Alien vs. Predador), era hora de fazer um filme novo, segundo os produtores, então foram atrás de reviver a série com seu diretor original.
Dirigido por Ridley Scott, o filme se passa em 2089 quando a Weyland resolve financiar uma expedição espacial rumo a um planeta que, segundo estudos de dois arqueólogos, é o planeta onde vivem os Engenheiros. Seres extra-terrestres que acreditam ser os agentes que deram origem a vida na terra.
O filme é uma monta-russa repleta de altos e baixos. O roteiro é assinado por Damon Lindelof, mesmo roteirista da série Lost, então você já sabe que sairá do filme com muito mais perguntas do que respostas. O filme conta com uma direção de arte PERFEITA! A fotografia do filme é um espetáculo visual que enche os olhos. Sem a menor dúvida, o ponto mais alto do filme são os aspectos técnicos. Já o roteiro...
Tem uma série de coisas. O filme se propõem a explicar tanto a origem da vida na terra quanto a origem dos Aliens, o que ele faz, de fato, porém as personagens do filme são um problema. Temos um elenco muito bom, porém nenhum personagem é memorável, a não ser por suas burrices (o biólogo que põem a mão num ser que não conhece ou a personagem que está fugindo de uma nave que cai sobre ela que para sobreviver bastava apenas correr para o lado) e mesmo Noomi Rapace que interpreta Elizabeth Shaw, a arqueóloga que propôs a expedição, não é uma personagem ruim, porém em uma saga onde estamos acostumados com uma protagonista do peso que é a tenente Ripley, Shaw acaba se tornando esquecível.
Ridley Scott muito provavelmente não sabia o que estava fazendo quando começou a dirigir esse filme, tanto que deu várias entrevistas dizendo que Prometheus não teria relação nenhuma com Alien, mas voltou atrás e disse que sim, era uma prequel. 
É um filme bom, muito bem executado tecnicamente, porém quando acaba, a frustração é inevitável, pois foram incontáveis perguntas para duas ou três respostas. Não chega a ser uma "obra de arte injustiçada" mas também não é esse lixo que todo mundo esbraveja na internet.
É um filme de ficção com tudo o que o gênero pede, porém o que ferra com tudo é ter o peso da franquia Alien em suas costas.


Aqui é só ladeira abaixo.
Lançado em 2017 e dirigido por Ridley Scott (o que é inacreditável, pois aqui ele errou feio a mão) o filme se passa em 2104 e acompanha a nave de colonização Covenant que está indo ao planeta Origae-6, transportando mais de 2.000 colonos em hiper-sono e 1.140 embriões humanos. Lá pelas tantas, a nave é atingida por uma explosão o que causa grandes danos e iniciando vários incêndios. Os 15 tripulantes não-essenciais despertam do hiper-sono, mas o Capitão Branson ( numa interpretação com menos de 10 minutos de tela de James Franco que pediu uma ponta no filme por ser fã da saga) é incinerado dentro de sua cápsula. Sua mulher, Deniels, fica traumatizada, mas a missão segue. Quando chegam ao planeta destino, a tripulação (mostrando ser um o grupo mais burro da franquia) começam a interagir sem nenhum tipo de proteção com o planeta por acharem que ele se assemelha muito a terra.
Primeiro de tudo, esse filme deveria se chamar "Michael Fassbender: O Filme" pois é só o que vemos. O filme TODO se resume a Michael Fassbender interpretando dois androides que tem  função de explicar cada segundo do filme e cada linha do roteiro e umas alegorias bíblicas que, francamente, foda-se, não tem graça alguma. Sério, esse filme desce muito baixo, apelando para cenas de slasher com direito a alien matando casal enquanto tomam banho (!!!!!!), sério, chega a dar vergonha.
Nada nesse filme funciona! Os personagens principais são todos chatos, além de serem numerosos e sem caracterização alguma, então eles começam a morrer e você nem sabe quem é quem em determinados momentos. Covenant nem pra guilty pleasure serve, pois não tem carisma nenhum, ao contrário de Ressurreição, por exemplo, cuja história é uma confusão, mas as personagens são carismáticos e nós nos importamos com eles, isso sem contar os (d)efeitos especiais. Sério, em um filme cujo valor da produção foi de 97 milhões de dólares e é sequência de Prometheus que foi aquele espetáculo visual, chega a dar vergonha ver os neomorfos (criaturas que surgem nesse filme). É o único filme realmente ruim da franquia, onde nada se salva!
Esse filme é uma tentativa descabida de uma slasher com o xenomorfo como assassino. Não faz o menor sentido.

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