Review: Pânico

* O texto a seguir está repleto de spoilers de todo o enredo do filme, inclusive a identidade do assassino!* 

Clássico do horror que deu origem a uma das mais importantes franquias do cinema slasher saído da mente do mestre do Wes Craven (que já havia criado clássicos como A hora do Pesadelo e Aniversário Macabro), Pânico marca o ressurgimento do gênero com toda uma nova roupagem de metalinguagem cinematográfica.




Lançado em 1996, o filme acompanha um grupo de jovens da cidade de Woodsboro que começam a ser perseguidos e assassinados por algum maluco fã de filmes de terror. Ele liga para as vítimas e faz algumas perguntas, quem errar a resposta, morre.
Genial desde a primeira cena, o filme já começa reverenciando outros clássicos do cinema. A cena inicial vemos a personagem de Drew Barrimore sendo assassinada. Assim como aconteceu em Psicose, cujo poster dava a entender que Janet Leigh seria a protagonista do filme, Drew estampava o poster do filme e foi usada de "chamariz" para o filme. Então começamos a acompanhar a final girl, personagem Sidney interpretada por Neve Campbell. Sidney, cuja mãe foi assassinada a um ano. Sidney acredita que o assassino é Cotton, homem que foi preso e condenado pelo crime, cujo testemunho de Sidney foi fundamental para sua prisão, pois ela acredita que o viu saindo da cena do crime usando uma jaqueta coberta com o sangue de sua mãe, porém a jornalista Gale (interpretada por Courteney Cox, a Monica de Friends) acredita que Cotton seja inocente, o que gera a imediata antipatia de Sidney. Seguimos ainda Dewey (interpretado por David Arquette), o policial "bobão" que ninguém leva a sério, irmão de Tatum (minha musa Rose McGowan) dona de uma personalidade forte que é a melhor amiga de Sidney.
O roteiro escrito por Kevin Williamson que depois seria conhecido por seus dramas adolescentes como Dowson's Creek e The Vampire Diaries é todos pautado na meta linguagem de descontrução do gênero slasher. Ao mesmo tempo em que subverte um gênero, questiona e quebra seus clichês, ele os reimagina e os aplica no filme de uma maneira genial. O roteiro é repleto de alívios cômicos, porém isso não afeta o filme em momento algum, pois as cenas de assassinato são tensas e, em especial o ato final, é um banho de sangue!
O cinema de horror nos anos 90 estava sem muito crédito na época devido ao grande número de continuações sem pé nem cabeça de clássicos do horror que havia sido lançados entre os anos 70 e 80, então Wes surge com a ideia de reinventar o gênero: o assassino não seria mais alguém (ou alguma coisa) indestrutível com poderes (ou que morre em todas as continuações mas sempre volta sem motivo aparente ou se quer explicação), ele decidiu que seria um assassino humano. Além disso, o outro modo encontrado para essa reimaginação do gênero foi usar metalinguagem cinematográfica. Mas o que é isso? É quando o filme tem consciência de si e se questiona. No caso de Pânico não é quebrada a quarta parede, como em Deadpool por exemplo, em que o personagem sabe que está em um filme e conversa com o telespectador diretamente, aqui é mais sutil. Os personagens não tem a noção de que são personagens de um filme de horror, mas questionam todos os clichês que estão vivendo. A maioria dos personagens centrais das tramas de Pânico são fãs de filmes de terror, mas em especial Randy personagem interpretado por Jamie Kennedy, que explica as regras do cinema de horror:


As três regras principais do horror citadas por Randy para sobreviver a um filme de horror:
1 - Não pode fazer sexo
2 - Não pode beber ou usar drogas 
3 - Não diga "eu já volto"
No momento em que as regras são apresentadas, elas são subvertidas, pois Randy bebe, Gale diz "eu já volto" e Sidney transa e ao final do banho de sangue os três sobrevivem.
As cenas de morte são bem elaboradas e sangrentas, sendo a cena inicial do filme, a perseguição e morte de Casey, um das mais memoráveis do cinema de horror.


E há também uma das mais infames cenas de morte do cinema: a morte de Tatum.


Há também uma mescla de cenas do próprio filme com outros clássicos que os jovens assistem, principalmente Halloween: A Noite do Terror, uma das suas principais influências, deixando claro o modo como Wes queria reverenciar os clássicos ao mesmo ponto que cria a sua própria identidade.



Mas o principal conflito da trama é: quem é a pessoa por trás da máscara do GhostFace?Sabemos desde o começo do filme que o assassino é alguém obcecado por filmes de terror, afinal o modus operandi do assassino é ligar para as vítimas e fazer perguntas sobre filmes de terror. Ao longo do filme temos várias pistas sobre quem é o assassino e, claro, pistas falas. Randy trabalha em um locadora e ama filmes de terror, Billy (namorado de Sidney, interpretado por Skeet Ulrich ) e seu amigo Stu (namorado de Tatum, interpretado por Metthew Lillard, o Salsicha dos filmes Scooby-Doo) que também amam filmes de horror e ao decorrer do filme os próprios jovens se questionam como na cena em que todos estão sentados na fonte da escola após terem sido interrogados pela polícia, ou no terceiro até, após Sidney e Billy fazerem sexo e ela pergunta a ele para quem foi que ele ligou quando foi detido. 
No terceiro ato temos a revelação final: Billy e Stu são os assassinos (sim, são dois). Os dois são psicopatas obcecados por filmes de horror e seu plano é cometer os crimes guiando a narrativa deles exatamente como um filme de horror: eles matam Casey de uma maneira cinematográfica para ser a "abertura", depois começam a perseguir Sidney, porém não a matam, afinal eles precisam cumprir o "procolo" então, por exemplo, Sidney só pode ser assassinada após fazer sexo, afinal segundo as regras dos filmes de horror a virgem sempre sobrevive por ser a única que consegue enganar o assassino (vide Halloween, Sexta-Feira 13, O Massacre da Serra Elétrica, etc...). O motivo dos assassinos também é convincente. Descobrimos que a motivação de Billy é que a mãe de Sidney era amante do pai de Billy e por isso a mãe dele deixou seu pai e foi embora da cidade, porém aqui temos o que eu mais amo em Pânico: a final girl. Sidney não é uma virgem inocente que consegue fugir na sorte, ela sobrevive pois é inteligente e forte, quebra-se aí mais um paradigma, a "mocinha" não é só uma virgem inocente que consegue fugir, ela é uma final girl que luta até o fim, o que aliás é outro fator interessante na filmografia de Wes Craven, ele cria ótimas personagens femininas, em especial a Sidney que vemos ao decorrer da franquia Pânico como a personagem vai crescendo e superando seus traumas.
Tendo custado US$ 14 milhões, apenas nos EUA o filme arrecadou US$ 103 milhões (segundo Box Office), foi um sucesso de público e crítica era óbvio que o filme teria continuações. A franquia conta com três continuações e uma série de TV produzida pela MTV norte americana, sendo que o quarto filme deixou caminho e foi todo pensado com a intenção de dar origem a uma nova trilogia, porém em 2015 Wes Craven faleceu. A última notícia que tivemos da franquia é que a produtora Blumhouse (responsável por filmes como o novo HalloweenA Morte Te Dá ParabénsCorra!Atividade Paranormal dentre muitos outros) estaria interessada em fazer um reboot da série, porém nada oficial. 
Tendo em vista que Kevin Williamson disse que sem Wes ele não tem interesse em continuar na série, vamos torcer para que seja apenas um boato.
Foi responsável também por uma série de slashers adolescentes dos anos 90 como Lenda UrbanaEu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado (também roteirizado por Kevin Williamson), o novo filme da franquia A Hora do Pesadelo, O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger, que marca o retorno de Wes Craven na direção da série (ele havia dirigido e criado o argumento do primeiro filme) e a continuação Halloween h20: Vinte Anos Depois, que marcou o retorno de Jamie Lee Curtis para a franquia.

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