A conturbada produção de Instinto Selvagem 2

*Antes de Começarmos: O texto a seguir contém um relato a respeito de
 assédio sexual, mas 
tudo devidamente sinalizado*

Lançado em 2006 com direção de Michael Caton-Jones, o filme prometia ser um "retorno a fórmula" do original, porém com uma produção caótica, o resultado foi um filme cuja qualidade é absurdamente inferior ao primeiro e foi fracasso tanto de crítica quando de bilheteria, tendo custado 70 milhões e arrecadado 39 milhões.

Lançado em 1992 com direção de Paul Verhoeven e com Michael Douglas (um dos maiores nomes da época) como protagonista, o o primeiro Instinto Selvagem é um suspense erótico que fez muito sucesso na época e foi responsável por ter catapultado a diva Sharon Stone ao estrelato. Aqui, Douglas interpreta Nick Curran, um investigador (com sérios problemas em controlar sua raiva ou deixar o pênis dentro das calças) que se envolve na investigação de um empresário do ramo da música que foi assassinado por uma "loira misteriosa. A investigação o levo ao caminho de Catherine Tramell (Sharon Stone) uma psicóloga de formação que é autora de livros e teve um envolvimento com o falecido. O mais estranho é que Catherine escreveu a anos atrás um livro que descreve o assassinato ocorrido exatamente como ele ocorreu. É um filme muito bom, embora também tenha um roteiro problemático em lidar com assuntos complexos e delicados como estupro e o modo como representa a bissexualidade, é um suspense muito competente e com um final aberto a interpretações, porém muito competente. Catherine é uma das personagens femininas mais importantes da história do cinema quando se fala em libertação da mulher e sexualidade feminina. Hoje ele está disponível na netflix.



Tendo custado 49 milhões e arrecadado aproximadamente 253 milhões de dólares, era visto que mais hora menos hora sairia uma continuação almejando o mesmo sucesso de seu antecessor, então dez anos após o primeiro filme começam os projetos para a continuação.
Sharon agora é o nome mais importante da continuação, tendo em vista que Douglas não retornaria, ela seria a estrela "solo" do filme, então ela agora poderia impor suas condições e vontades para a realização do filme, então comecemos por um dos pontos mais controversos: suas exigências para a escolha do parceiro de cena e o contrato pay or play que ela assinou.


Michael Douglas e
Sharon Stone

Durante as gravações do primeiro filme, Douglas já era famosos e Sharon uma novata, então o diretor optou por ser mais paciencioso e dar mais atenção a ela do que ele, por razões óbvias, mas isso fez com que Douglas ficasse com ciúmes por ele dar mais atenção a ela, então fez com que a vida dela durante as gravações fosse complicada, então, para o retorno, uma das condições da atriz para o retorno foi que ela deveria aprovar a escolha do ator com quem ela dividiria a cena, mas para além disso, ainda houveram diversos atores que não aceitaram o convite, tais como Kurt Russell (este deixou claro que não aceitou devido as cenas de nudez do filme), Pierce BrosnanViggo MortensenBenicio Del ToroAaron Eckhart e Bruce Greenwood. Houve também a contratação de Robert Downey Jr., porém ele foi desligado do projeto por ter sido preso por porte de drogas na época. Embora saibamos que houveram sim vetos vindos da atriz, sabe-se que um dos nomes por ela vetado foi Benjamin Bratt. Junto a isso, houve muita demora também em escolherem um diretor para o projeto.
Já o contrato pay or play significava que Sharon teria direito a receber seu cachê mesmo que o filme não fosse rodado e a data limite para os início das gravações era em fevereiro de 2001. Em junho de 2001 ela entrou na justiça contra dois produtores do filme cobrando os 100 milhões de seu cachê e alegou que eles eram responsáveis pelo atraso da produção e por isso estariam prejudicando sua carreira, pois ela ficava presa ao projeto sem poder fechar com outras produções. O assunto foi retomado em 2004 enquanto Sharon participava da turnê de divulgação do fatídico Mulher-Gato (que tinha o vetado Benjamin Bratt no elenco), Sharon alegou que havia sido fechado um acordo e estava tudo certo entre ela e os produtores.
Quanto a direção, a princípio o projeto seria comandado por David Cronenberg mas acabou não dando certo o acordo pois o estúdio estava se recusando a contratar a equipe que sempre trabalhava com o diretor, então ele abandonou o barco. Foram cotados também John McTiernan (que entre bombas e êxitos dirigiu obras como O Predador e Caçada ao Outubro Vermelho), Jan de Bont (que entre êxitos e flops dirigiu Lara Croft Tomb Raider: A Origem da Vida e Velocidade Máxima) e o próprio Paul Verhoeven, (este que entre êxitos e bombas [atômicas] dirigiu obras como Robocop: O policial do futuro e Showgirls [um dos piores filmes da história]) que havia comandado o original, porém nenhum deles ficou e o escolhido foi Michael Caton-Jones que havia comandado o ótimo Tiros em Ruanda.

Michael Caton-Jones e Sharon Stone

*ALERTA DE GATILHO: o trecho a seguir contém um relato sobre assédio sexual*

Em 2019 em uma entrevista à vogue norte-americana, Sharon relatou que foi vítima de assédio sexual durante a produção do longa. "Eu trabalhei com um diretor em Instinto Selvagem 2 que me pedia para sentar no colo dele todos os dias para receber minhas instruções, quando eu me recusava ele dizia que não ia me filmar. Isso durou por semanas. Eu tinha um bebê de duas semanas quando isso começou. Eu posso dizer que todos nós odiávamos isso e acredito que o filme reflete a qualidade da atmosfera do ambiente de trabalho" ela disse na entrevista, porém ela não citou nomes, então não se sabe se foi por parte do diretor do filme ou se foi por parte de alguém responsável por outro setor. 
Nessa mesma entrevista ela falou sobre como os papeis para os quais ela geralmente é chamada para fazer são explorando o lado sexual e/ou a sexualizando e como esse estigma atrapalhou sua carreira. Algo muito próximo do que foi relatado também por Megan Fox na comemoração de 10 anos do filme Garota Infernal (veja aqui).

*Fim do tópico*

O parceiro aprovado por Sharon para dividir tela foi o desconhecido (embora com uma carreira bem prolífera) David Morrissey numa intenção de projetá-lo ao estrelado assim como havia ocorrido com Sharon. Aqui vemos Catherine sendo investigada após um acidente de carro que acabou com um amante seu morrendo afogado. O psicanalista Michael Glass (Morrissey) então é designado para traçar um perfil psicológico de Catherine para definir se ela é perigosa ou não para viver em sociedade. Conforme a trama se desenrola Catherine e Michael tornam sua relação mais estreita enquanto pessoas ao seu redor vão morrendo e o mistério aumenta. É Catherine louca ou não?

Sharon Stone e
David Morrissey

O diretor claramente tinha o intuito de emular o estilo de Verhoeven do ponto de vista sexual da coisa, porém mais maneirado do que Verhoeven que usa também muita violência gráfica em seu filme, porém o resultado foi desastroso. A conturbada produção então entrou em gravações e o filme foi lançado em 2006 e, sem surpresa, foi um flop, tanto com a crítica quanto com o público tendo feite a limpa na premiação da Framboesa de Ouro do ano levando nas categorias pior filme, pior atriz para Sharon Stone, pior roteiro e pior sequência ou prelúdio e ainda sendo indicado nas categorias de pior diretor, pior ator coadjuvante para David Thewlis (o Lupin da saga Harry Potter e velho conhecido de desastres cinematográficos, vide A Ilha do dr. Moreau) e pior dupla para "Sharon Stone e seus seios assimétricos" (eu acho que o macho punheteiro que propôs esse enunciado deveria ser interditado). Sorte a da Catherine Deneuve que estava sendo cotada para o projeto, mas não fechou sua participação no longa.
Outro que quase fez parte do projeto era o renomado musicista Jerry Goldsmith,17 vezes indicado ao oscar e responsável por trilhas sonoras memoráveis do cinema como a do primeiro Instinto Selvagem, A Profecia clássico do horror de 1976 pelo qual ele levou o oscar, Alien: O oitavo passageiro e Chinatown, porém ele faleceu antes de concluir o trabalho.
Dificilmente eu digo para alguém não assistir a um filme, eu realmente acho que todo devem assistir para ter sua experiência com as produções e tirar delas as sua próprias conclusões, mas esse filme além de ser ruim, sua produção foi uma experiência desconfortável para praticamente todos os envolvidos. Creio que você possa investir seu tempo em coisa melhor.



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