Revisitando - Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado

*Antes de começarmos: O texto a seguir contém spoilers, porém os plot twists e identidades dos assassinos não são revelados *


Em 1997 Pânico do gênio Wes Craven já havia "ressuscitado" o subgênero slasher e o seu roteirista Kevin Williamson estava aproveitando para emplacar vários projetos, tais como a própria continuação Pânico 2, a série Dawson's Creek que viria a ser sucesso e outro teen slasher Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado cuja direção ficou nas mãos do iniciante Jim Gillespie e com um elenco repleto de caras conhecidas do gênero e dos anos 90.


Livremente inspirado no livro da romancista norte-americana Lois Duncan, Kevin havia escrito esse roteiro antes mesmo de ter escrito Pânico, porém ele não havia conseguido vendê-lo. A trama do livro narra a história de um grupo de jovens, os mesmos do filme: Julie, Berry, Helen e Ray que bêbados pós uma balada atropelam um menino de 10 anos que voltava para casa de bicicleta. Julie quer chamar a polícia, porém Barry argumenta contra até que todos decidem por fugir e fazem o pacto de silêncio. Separados, um ano depois começam a receber bilhetes dizendo saber o que eles fizeram no ano anterior. O "mistério" começa e os jovens precisam descobrir quem é que os está ameaçando. É um livro não muito bem escrito, a leitura é um pouco maçante e o mistério no final se desenrola em duas páginas. Para quem é fã do filme, a decepção vem, e para quem for ler procurando um entretenimento de suspense, também sairá decepcionado, pois a história falha também em seu um thriller instigante ou um suspense envolvente.
O livro foi escrito em 1973 e a adaptação para o cinema veio em 1997, então além das diferenças culturais entre as épocas, o cinema da época também tinha as próprias demandas, então o resultado foi a conversão da história em um slasher que misturava a história do livro com uma popular lenda urbana. A autora do livro, cuja filha havia sido assassinada de forma brutal, disse abertamente que odiou o que fizeram com sua obra.


No filme acompanhamos quatro jovens voltando para casa depois de uma comemoração de 4 de julho e atropelam uma pessoa. Depois de uma deliberação, eles decidem jogar o corpo no mar e fazem um pacto de silêncio. Um ano depois, eles recebem ameaças anônimas deixando claro que alguém sabe o que eles fizeram. O mistério está todo em volta da identidade do assassino, pois com o tempo as ameaças passam de bilhetes anônimos a perseguições cada vez mais violentas enquanto pessoas ao seu redor começam a ser mortas. Embora não seja tão "prolífico" na quantidade de mortos quanto os filmes slasher convencionais, o filme leva um tempo para construir seu suspense, estabelecer a história da protagonista e daí começam os assassinatos.


O elenco foi composto por rostos que na época estavam em começo de carreira (ou fama) e tornaram-se reconhecíveisJennifer Love Hewitt fazia parte do elenco da incrível série O Quinteto (cuja personagem dela ganharia um spin off) anos depois seria protagonista de Ghost Whisperer que teve cinco temporadas. Aqui ela interpreta Julie, a protagonista clássica: a garota "certinha" que se culpa pelo ocorrido. Foi a única pessoa a ficar contra a ideia de se livrar do corpo e fugir. Sua melhor amiga Helen é interpretada pela scream queen Sarah Michelle Gellar que na época já era hit com Buffy , a Caça-Vampiros. Helen é muito preocupada com sua imagem, sonha em ser "artista". A época do acidente, Julie namora com Ray, interpretado por Freddie Prinze Jr. um pescador cujo passado ninguém conhece e Helen com completo babaca Barry, interpretado por Ryan Phillippe. Barry é insuportável, o típico macho branco fazendo merda o filme todo.


Fun facts: Sarah e Freddie se conheceram durante as gravações e, embora seus personagens tenham apenas dois momentos de interação durante o filme todo que tem 1h42min de duração, os dois engataram num namoro que virou um casamento que dura até hoje. Eles ainda dividiram as telas em Ela é DemaisScooby-Doo e Scooby-Doo 2: Monstros à Solta onde ela interpreta a Daphne e ele o Fred.
Sarah e Ryan atuariam juntos também no ótimo Segundas Intenções.


O filme por tratar-se de um slasher conta com um assassino mascarado e descobrir a identidade do assassino é a questão central do filme. Como o livro não contava com um assassino mascarado, essa parte foi toda criada por Kevin em sua adaptação, então aqui temos um pescador que mata pessoas com um gancho (inspirado em uma popular lenda urbana que é contada no filme). Ao decorrer da obra, durante as investigações de Julie e Helen elas se deparam com alguns personagens que podem tanto ser possíveis vítimas quanto potenciais assassinos, como a misteriosa Missy Egan interpretada por Anne Heche, ou o colega apaixonado (e não correspondido) Max interpretado por Johnny Galecki (que os fãs conhecem como Leonard em Big Bang Theory) e a insuportável Elsa, irmã de Helen interpretada por Bridgette Wilson-Sampras (de Mortal Kombat e A Casa da Colina).
Há uma cena em especial nesse filme que é notável e, sem dúvidas, uma das melhores do cinema slasher. A cena é a perseguição do pescador a Helen que culmina com a morte dela. Eu sofri muito a primeira vez que vi, pois além de eu ser fã da Sarah, a Helen é a personagem mais carismática do filme.


O roteiro não reinventou a roda muito menos redefiniu o cinema, inclusive é repleto de furos (tipo a cena em que o assassino limpa o porta-malas do carro de Julie que estava cheio com um cadáver e muitos caranguejos sem ser visto por ninguém em menos de 5 minutos), porém ele tenta. Ele tenta algumas reviravoltas que nos fazem crer que o assassino é alguém quando na verdade o assassino é um personagem que só é introduzido no história no terceiro ato e isso acaba deixando uma sensação de "perda de tempo" a caminhada da história até ali, embora as coisas descobertas por Julie não sejam de fato uma perda de tempo. O desenrolar da história tem até uma tentativa de plot twist que se tivesse sido melhor pensada (ou até mesmo desenvolvida) poderia ser bem mais satisfatório, mas é um suspense ok, é um entretenimento bem válido para uma noite com amigos.
O filme teve um custo de 17 milhões e lucrou 125 milhões, então logo no ano seguinte teve sinal verde para uma continuação e então em 1998 veio Eu Ainda Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado.


Lançado em 1998 com direção de Danny Cannon, a continuação trás novamente Julie, agora estudando em uma universidade um ano após os eventos do filme anterior. Julie, um ano após os eventos do primeiro filme ganha uma viagem com tudo pago para uma pequena (e muito suspeita) ilha nas Bahamas com tudo pago e direito a 3 acompanhantes, ela então chama sua amiga Karla (interpretada por Brandy Norwood que na época era mais conhecida pela música), o namorado dela Tyrell (interpretado por Mekhi Phifer) que tem todo o carisma de um saco de batatas) e o "bom moço" Will (interpretado por Matthew Settle) que só foi convidado porque Ray foi convidado por Julie, mas não aceitou. Eis que, de última hora ele muda de ideia e resolve ir atrás deles. Logo ao chegarem ao hotel que vão ficar, Julie começa a ser atormentada por ameaças de "eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado" e nota que o rolê ali tá todo errado. 


Julie agora deixou de lado a questão moral de se deveriam ter chamado ou não a polícia (pois no final do primeiro filme eles mantém a mentira) e agora vive com o constante medo de saber que o corpo do assassino não foi encontrado, então ela tornou-se alguém que não consegue lidar com seu trauma e sente-se constantemente perseguida e atormentada.
Fun facts: Há um final alternativo do primeiro filme que, sejamos honestos, de tão ruim que é, não foi utilizado, porém quando foi dado sinal para a continuação esse final foi usado como teaser da continuação antes de sair o trailer oficial. Veja ele abaixo:


Aqui a coisa já fica um pouco mais "espetacular". Até por ter tido um investimento maior, pois agora tinha um orçamento de 24 milhões, o filme conta com uma direção de arte mais completa que o primeiro com um diretor que deixa um tom mais "colorido" ao filme que no original (até para ter coerência com a localidade onde o filme se passa). Esse "espetáculo" também tenta ser aplicado no roteiro que mais uma vez quer, mesmo que saibamos quem é o assassino, investir no mistério, então aqui faz (ou tenta) um plot twist colocando um ajudante ao assassino que até então nunca havia sido comentado na história. Alguns gostam, pois dá pra comprar aquela história, eu achei um disparate.
Dessa vez não houve envolvimento de Kevin no filme, então sabíamos que a história estava toda entregue aos desejos do estúdio. Ganhar a promoção no rádio é a desculpa do usada pelo roteiro para aplicar um plot twist e para colocar todos os protagonistas trancados em uma ilha até é criativo, inventivo, até porque mais para frente ele se explica, porém se você mora no Brasil ou conhece a geografia do país para você o filme estará completamente arruinado em seus 15 minutos iniciais, pois para ganhar a promoção da rádio Julie e Karla precisam responder qual é a capital do Brasil, e ela respondem errado. Nesse momento fica claro metade da resolução do mistério do filme o que, no final, deixa a experiência um pouco frustrante.
O lucro foi de 84 milhões, bem abaixo do esperado pelo estúdio e a franquia foi colocada na gaveta até que em 2006 infelizmente o "Jênio" Sylvain White (que anos mais tarde mostraria novamente toda a sua incompetência dirigindo a atrocidade Slender Man: Pesadelo Sem Rosto) resolveu lançar Eu Sempre Vou Saber O Que Vocês Fizeram No Verão Passado.


O filme é horrível em tudo o que se propõem! Aqui acompanhamos um bando de adolescentes insuportáveis que após uma pegadinha dar errado e resultar na morte de um amigo deles, todos resolvem fazer um pacto de silêncio, porém um ano depois começam a receber ameaças anônimas. Esse filme é um completo desperdício de tempo e investimento, pois não existe uma cena sequer que seja boa, não há sequer um momento inspirado na direção ou uma atuação que se salve, nada! Ele não tem continuidade nenhuma com os filmes originais e leva muito mais em consideração a lenda urbana em si do que a própria mitologia do assassino. Não vale nem a pena dar-me ao trabalho de escrever sobre essa ofensa em forma de filme, se você tiver 1h30min da sua vida pra jogar fora, você encontra ele completo no youtube e sim, a imagem é ruim daquele jeito mesmo, não é "filtro" usado para não cair o vídeo ou algo assim, ele é horrível e escuro daquele modo mesmo.

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