Defendendo o Injustiçado "Passion"

Suspense erótico de 2013 dirigido pelo mestre Brian De Palma tem mulheres fortes, assassinato e ótimas cenas eróticas, parece ótimo né, mas então o que deu de errado? 




O filme acompanha Isabelle e Christine, interpretadas pelas ótimas Noomi Rapace e Rachel McAdams e, ao contrário do modo como ele foi apresentado na época, ele não é focado em um romance entre as personagens, ele é focado na "batalha" empresarial travada entre elas. Christine (McAdams) é a chefe direta de Isabelle (Rapace) na multinacional em que trabalham. Christine é especialista em jogos de poder e sabe manipular todos a sua volta para obter tudo o que quer, e sua vítima preferida no momento é Isabelle, aparentemente, uma mulher inocente que nutre uma admiração profunda por Christine, dando assim, cada vez mais poder de manipulação a ela.
Ao decorrer da trama, existem muitos aspectos eróticos, diga-se de passagem que são a especialidade da direção de De Palma, e um assassinato.
O filme é muito criticado em sites especializados tendo péssimas notas, como por exemplo, 23% de aprovação no Rotten Tomatoes, nota 5,3/10 no IMDb e 2,7/5 estrelas no filmow, porém eu gosto muito desse filme.
O principal motivo pelo qual ele é criticado é que o roteiro apresenta alguns furos e isso é inegável, ele tem mesmo, porém o que de fato acontece é que De Palma (que também é roteirista) perdeu muito tempo do desenvolver da trama tentando fazer com que ela fosse aberta a interpretação e ao decorrer disso ele se perde e, intencionalmente ou não, ficam faltando partes que seriam fundamentais para a interpretação compreende? O momento em que isso fica mais explícito é o final, depois de algumas reviravoltas (nada muito marcante) chega o momento em que será revelado o assassino e então o que deveria ser uma resposta abre uma pergunta ainda maior, muita gente termina o filme com uma sensação de "Mas o que?!" e fica incrédulo olhando para a teve. 
Quando eu assisti, eu estava tão ligado a aquelas personagens que consegui captar a áurea e a mensagem que estava sendo passada, o que claro, pode ser viagem da minha cabeça, mas é justamente por isso que eu gosto desse filme, ele me trouxe a experiência que eu gosto de ter quando assisto algo: conectar-me aos fatos e personagens a tal ponto que me provoque uma suspensão de descrença total, então quando chegou o final do terceiro ato quando o assassino e suas motivações  são "revelados" eu amei e fiquei estasiado, porém olhei para o lado e as pessoas que assistiram o filme comigo estavam todas com aquela feição de "mas que merda é essa?" pois o ápice do filme lhe apresenta uma resolução que, como eu disse, ao invés de responder-lhe perguntas, provoca muitas mais do que as que se tinha anterioemente.
Os pontos positivos do filme pra mim são, a direção de elenco, pois as atuações estão ótimas, poder rever Rachel McAdams revivendo uma vadia manipuladora aos moldes de sua Regina George é maravilhoso e Noomi Rapace também está ótima, foi o primeiro papel dela que vi depois de Millennium I - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres e ela apresenta uma faceta completamente diferente do que eu estava esperando o que é maravilhoso, pois é assim que um ator de prova bom, sendo versátil. Gosto muito também da direção de arte com as cores acinzentadas dando um tom quase que de um sonho para o filme, onde tudo parece artificial e somente o vermelho, hora do batom, hora do sangue, se destaca sendo a única cor vibrante do filme. Gosto muito da trilha sonora também, é a música estridente e característica que o diretor quase sempre usa em seus filmes e esse foi um dos fatores que me prendeu ao filme elevando a tensão nos momentos necessários conforme o filme vai evoluindo e principalmente no terceiro ato onde, vamos dizer que a loucura começa a "tomar conta" do filme.
Ele é um filme complicado, tanto de ser assistido, quando de ser compreendido, hora por que a história é monótona, hora porque ele tem essas brechas no roteiro que dificultam um pouco a compreensão, mas não é nada muito impossível de assistir, pois a parte artística do filme, seja atuações, seja de cenários, irão encher os olhos de você for ver o filme permitindo que isso aconteça. Na época, o filme fez muito barulho por dois motivos: ser o retorno de De Palma ao main stream já que ele não dirigia um filme grande e barulhento desde 1996 com Missão: Impossível e porque, como eu já citei no começo do texto, o filme foi vendido como "um grande romance lésbico entre Rachel McAdams e Noomi Rapace" e ele não é. Ele é um suspense que tem como plano de fundo disputas de poder entre mulheres poderosas que, em determinado momento por um curto período, se envolvem sexualmente, ou seja, mais uma vez o que ajudou a cagar muito com o filme foi o marketing. 
Um ponto negativo que eu destaco do filme e que me irritou um pouco e não defenderei é que ele tem alguns momento misóginos. Os que verem o filme prestando pouca atenção poderão achar que é só mais uma história onde mulheres não se apoiam e são um bando de vadias ambiciosas que estão dispostas a atropelar umas as outras a qualquer momento e essa interpretação é culpa do roteiro, haja visto que ele trata esse tema com uma superficialidade. o que pode ser uma perigo, pois quem não se ligar a Christine e Isabelle do modo como eu me liguei, pode levar para um lado de generalização do gênero e achar mesmo que todas as mulheres são assim, principalmente nos momentos em que o sexo é inserido na trama, pois ele é usado com o único intuito de dar a mulher que o pratica mais poder.
Eu gosto muito e espero que vocês assistam o filme para que possamos discutir o final. Vou deixar nos comentários um spoiler com a minha interpretação do final, então se você ainda não viu o filme, não clique na caixa de comentários para não estragar a sua experiência vendo ele.
Comigo, Passion tem nota 8, pois ele me levou a um grau de imersão e envolvimento com a história que me fascinou.


PS: Não veja o trailer antes de ver o filme, pois os gênios do marketing que o fizeram revelam 80% do plot do filme nele.

Comentários

  1. O final é aberto a interpretações, o Brian de Palma foi querer brincar de David Lynch um pouco... A minha interpretação é a seguinte: A Isabelle é louca, do tipo delirante. Ela matou a Christine mas nunca vai se livrar da "imagem" da Christine. A cena final é um delírio da Isabelle, ela de fato matou a Dani, mas o momento em que o inspetor vai até sua porta tarde da noite e a Christine aparecer "viva" atacando ela faz parte dos delírios, a Dani de fato enviou as provas para o investigador antes de morrer, mas creio que ele não havia ido até lá no momento da briga.
    Há ainda a possíbilidade de a Christine "ressurgir" dos mortos seja mesmo que ela estivesse falando a verdade e que ela tinha, de fato, uma irmã gêmea, mas acho pouco provável.

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